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Decepcionante eleger quem atentou contra a democracia

Por Folha da Região SP em 07/11/2024 às 10:03:49

É decepcionante que a mais rica e poderosa nação do planeta tenha elegido alguém que, quando presidente dos Estados Unidos, tenha conspirado explicitamente contra a democracia e levado o país para a beira do caos e da implosão das instituições.

Donald Trump representa tudo o que não acreditamos como liderança política e como projeto de país.

No entanto, democracia é acumulado pedagógico e devemos ler e interpretar corretamente o que estão dizendo as urnas.

A sinalização mais explícita é que os cidadãos querem respostas para os desafios da economia. O governo Biden promoveu pleno emprego e crescimento econômico, mas não deu conta de controlar um padrão inflacionário que lá é visto como inaceitável. A percepção de piora da qualidade de vida dos cidadãos foi decisiva para que estes manifestassem desconfiança aos democratas.

No plano internacional, a insistência de envolver recursos americanos na Ucrânia gerou forte oposição. E a postura quase acrítica dos EUA frente ao genocídio palestino também trouxe reflexos negativos inclusive entre eleitores democratas, o que pode ter impactado as abstenções.

Além disso, colou a tese de que o Partido Democrata se transformara em partido de esquerda, por mais que a ala mais identitária e estridente seja ali minoritária. Recado importante para nós do campo progressista, no Brasil: a expectativa das pessoas no regime democrático é ter seus problemas práticos resolvidos. Depois, conseguir realizar seu horizonte de sonho, que tem forte base material. É fundamental que haja uma calibração no discurso. Não podemos abandonar pautas caras, como a defesa das liberdades democráticas e dos direitos humanos, mas temos que deixar claro que isso tem a mesma importância que a luta contra a inflação e a proteção dos trabalhadores - inclusive aqueles que se enxergam como empreendedores e que precisam de apoio e de ainda maior proteção do Estado.

Precisamos, sobretudo, valorizar as lideranças populares e também melhorar a comunicação entre aqueles que vocalizam discursos mais acadêmicos, que ressoam esnobes ou desconectados da realidade das pessoas comuns.

Biden ganhou as eleições passadas sobretudo por sua história no movimento sindical norte-americano. Sabia o que falar e como agir com aqueles afetados pela desindustrialização do país. Kamala Harris, apesar de preparada, tinha um discurso acadêmico típico dos centros urbanos aburguesados que aos olhos do trabalhador comum só reforçam a crescente desigualdade social naquele país.

O mundo passará por mais um teste importante a partir de agora. A agenda ambiental e a formação de alianças globais em temas importantes serão colocadas em xeque. Que a democracia tenha condições de controlar os gestos autoritários e que possamos sair fortalecidos desse momento difícil.

Professora Bebel é deputada estadual pelo PT e segunda presidenta da Apeoesp

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