No artigo denominado "São Paulo avança na direção certa", publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, o governador Tarcísio de Freitas traça uma trajetória fantástica - e delirante - de seu governo e entrega aos cidadãos um texto que ora flerta com o auto-elogio, ora recai em realismo mágico que mal consegue disfarçar a mediocridade desta gestão.
Indague-se: qual é o projeto do governador Tarcísio de Freitas para São Paulo? Não vale pegar emprestado entregas das secretarias, que fazem parte do fluxo normal de qualquer governo. Vale dizer: com dinheiro em caixa, é dever de qualquer morador do Palácio dos Bandeirantes asfaltar estradas e inaugurar casas populares. Chamar isso de "direção certa" é menosprezar a inteligência do eleitor. São Paulo sempre teve burocracia estatal preparada e orçamento portentoso. E faz o que faz a despeito de projetos de desmonte que assolam o Estado há mais de 3 décadas. Frente a isso, o governador de plantão é mero detalhe.
Tarcísio se vangloria do corte de gastos, mas não consegue correlacionar isso com indicadores palpáveis que indiquem melhora na qualidade de vida dos cidadãos. Orgulha-se de ter aprovado na ALESP o "maior orçamento da história", sem mencionar cortes de verbas das áreas sociais, como o confisco de R$ 11 bilhões da Educação, em valores atuais, seja porque despreza esta agenda de políticas públicas seja porque encontrou no confisco a oportunidade de esconder a sua incapacidade de executar o orçamento da pasta - com menos dinheiro, a incapacidade gerencial fica escamoteada.
Também não diz porque não cumpre metas do Plano Estadual de Educação - dever de qualquer bom gestor - notadamente quanto à remuneração dos profissionais da Educação. Tampouco esclarece o porquê de ter havido brutal empobrecimento do currículo escolar, com a redução de aulas de História, Geografia, Artes, Ciências, Sociologia, Filosofia, fundamentais para uma sólida formação básica dos estudantes. Por fim não explica, porque não tem o que dizer, o fato de São Paulo ter experimentado piora no desempenho educacional mesmo com orçamento multibilionário, escoado, no entanto, para a aquisição de soluções de tecnologia educacional de duvidosa eficácia.
O "rumo certo" a que o governador se refere, não é aquele que favorece as os trabalhadores, seus filhos e filhas, a população que vive na pobreza, nas periferias, mas sim um projeto de desmonte do Estado.
Aliás, o governador Tarcísio de Freitas destaca como um grande feito a vergonhosa entrega da SABESP para a empresa Equatorial, conhecida por não baixar o valor das tarifas, por aumentos exorbitantes das tarifas e serviço de péssima qualidade no atendimento à população na área de energia elétrica.
Ter vendido a SABESP, uma das empresas públicas mais rentáveis e superavitárias do Brasil, por um valor R$ 4,5 bilhões inferior ao seu preço de mercado, cotado na bolsa de valores, foi, em verdade, o único feito que pode ser atribuído a um projeto da gestão Tarcísio. Ou seja, em dois anos sua marca foi vender patrimônio do povo paulista e uma das suas melhores empresas.
Na segurança pública, não há o que falar. Como pode o governador autoelogiar uma política de segurança que não é capaz de frear a onda de criminalidade e que resultou, apenas de janeiro a setembro de 2024, na morte de 496 pessoas pela polícia, um aumento de 75% em relação ao mesmo período de 2023?
A derrota, no STF, de seu projeto de retirar câmeras dos uniformes dos policiais - medida que protege tanto o agente de segurança quanto o cidadão pagador de impostos - é a confirmação do desacerto e do populismo barato de eloquente resultado negativo.
Não é este o rumo que queremos e precisamos no Estado de São Paulo. É preciso olhar para o povo e não para cifras. É preciso criar um ambiente mais favorável à qualidade de vida da população e não aos negócios, senhor governador.
Professora Bebel é deputada estadual – PT e segunda presid